Maio 20

 Já tínhamos nos conhecido no quarto do hostel, quando a acordei narrando minha aventura com os mineiros em Presidente Figueiredo. Meu entusiasmo era da altura da minha voz, levei um tempo para perceber que alguém tentava dormir no caloroso fim de tarde de Manaus. Foi quando ela se levantou que fiquei constrangida pela minha má educação.

Em outro momento, já no banheiro compartilhado, foi que nos apresentamos. Ela se chamava Karen Harumi, formada em turismo, com trinta e uns como eu (parecia menos), vinda de São Paulo, e filha de japonês. Para compensar pela minha tagarelice no quarto que a acordou e fazer amizade, a convidei para ir ao teatro.

“Ela é uma figura”, foi o que pensei. Apenas constatei quando chegamos alguns minutinhos mais tarde para poder entrar no Teatro Amazonas, e perdemos a apresentação da orquestra. Fiquei tranquila quanto a isso, porque não era a primeira vez que me atrasava para isto. Na outra semana consegui assistir ao espetáculo.

Como já estávamos em frente ao lindo prédio, ela perguntou se poderia tirar selfies comigo. Até hoje não vi essas fotos, mas tiramos algumas. Depois nos dirigimos ao restaurante para comprar uma cerveja de cor estranha que ela tinha gostado. Confesso que não me recordo dos detalhes desse momento, mas sei que foi a partir do nosso atraso que nos tornamos amigas.

“Essa menina é única”, foi o que constatei quando de madrugada a vi chegar. Karen estava vestida com capa de chuva preta envernizada, calçava galochas e usava uma mochila no formato de crocodilo. Acredito que você concordaria comigo, que ela parece protagonista daquelas séries como New Girl ou Girlboss. É uma menina adulta ou adulta menina. Não sei. Só sei que é uma pessoa muito cativante. Ah, depois descobrimos ter algo em comum, ela também é escritora. Escreve crônicas no Um gole do universo, um espaço que tem muita a sua cara.

“Realmente é uma figura única”, tive certeza depois de ler suas aventuras e desventuras. Quando leio os seus textos me divirto muito, é como se eu estivesse a ouvindo contar tudo pessoalmente sobre o que acontece no universo Harumi. Nesta quarentena, precisamente no dia 04 de maio, recebi uma baita homenagem dela. Foi quando percebi que além de escrever, sabe nos ler muito bem. Até me deixou emocionada com a homenagem, pois me menciona na sua crônica Tacacára Feliz. Aqueceu meu coração em um período de pandemia tão tenso. E hoje retribuo o carinho. Aqui, só há gratidão.

 

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