A carona


Na rua deserta e mal iluminada do Cabralzinho, esperava o ônibus sempre atrasado. Distraída, inventava canções sem rimas e cantarolava músicas há tempos esquecidas, "me sinto só, me sinto só, eu me sinto tão seu...".
Com a demora do coletivo até uma carona serviria, foi rápido o pensamento que passou, "talvez eu não confie neles pra pedir ou eles tenham medo de mim". Não era garota de programa, nem invisível, muito menos a morte.
Distraída, continuava a cantar "me sinto só, me sinto só", após 1h, uma strada para na sua frente. Desconfiada, olha para o rosto de quem lhe chama, "quer que eu te leve até à ponte? Pode confiar, vou para o Muca, posso te deixar na Claudomiro". 

Hesitou, com tantas histórias de maníaco, quem em sã consciência aceitaria carona de um estranho ou ofereceria? Estava cansada, decidiu aceitar. Apreensiva, entrou no carro. Durante o percurso as respostas eram curtas para as perguntas diretas. Cautelosa, repassou o mínimo de informação. Do motorista soube seu nome, que era casado, tinha filhos e era formado em contábeis. 

Já na Claudomiro, ele liga o som do carro, para alívio da passageira que logo reconhece a música, houve um estalo. "O senhor é evangélico? Essa música toca na minha igreja!". A tensão é quebrada, "você sempre dá carona? Não, é a primeira vez!". Ele se despediu com um aperto de mão. Não sei se falou "Deus te abençoe ou boa sorte no tcc". 

Em menos de 10 min., ela estava numa avenida enlameada, barulhenta, com muitos carros e luzes. Desta vez, pegaria o ônibus.



Comentários

Rita Lavoyer disse…
Olá, Danielle. Espero não tenha se zangado com o convite. Obrigada por visitar-me.
Aqui estarei também. Grande abraço
Rita

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