ELLE CUSTÓDIO

 

  Ao morar nos hostels de Manaus e Alter do Chão, vi e conheci pessoas de vários lugares do mundo. Só por diversão, mentalmente fazia lista dos tipos de estrangeiros que havia conhecido. Era gente da França, Áustria, Alemanha, EUA, Japão, China, Inglaterra, Bélgica, Cingapura, Espanha, Portugal, Argentina, Chile, Peru, Austrália, Suécia, México, Venezuela, Colômbia, Nova Zelândia, Egito, Índia, Praga, Eslovênia... Então, me dei conta de que nunca havia conhecido alguém da Itália. Não sei o porquê de ter pensado justamente neste país, mas acredito que o pensamento foi tão forte que nesta quarentena conheci vários italianos em Alter, fiquei amiga de um deles e até morei com uma senhora italiana aqui no hostel que me ensinou as diferenças culturais do povo do norte e sul da Itália. Você pode até me dizer que provavelmente isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, por eu morar temporariamente numa vila balneária turística. Por experiência própria te aviso para ter cuidado com o que pen

  Já tínhamos nos conhecido no quarto do hostel, quando a acordei narrando minha aventura com os mineiros em Presidente Figueiredo. Meu entusiasmo era da altura da minha voz, levei um tempo para perceber que alguém tentava dormir no caloroso fim de tarde de Manaus. Foi quando ela se levantou que fiquei constrangida pela minha má educação. Em outro momento, já no banheiro compartilhado, foi que nos apresentamos. Ela se chamava Karen Harumi, formada em turismo, com trinta e uns como eu (parecia menos), vinda de São Paulo, e filha de japonês. Para compensar pela minha tagarelice no quarto que a acordou e fazer amizade, a convidei para ir ao teatro. “Ela é uma figura”, foi o que pensei. Apenas constatei quando chegamos alguns minutinhos mais tarde para poder entrar no Teatro Amazonas, e perdemos a apresentação da orquestra. Fiquei tranquila quanto a isso, porque não era a primeira vez que me atrasava para isto. Na outra semana consegui assistir ao espetáculo. Como já estávamos em fre

  N as redes sociais e jornais, os fatos mais espantosos: os canais da romântica Veneza ficaram limpos exibindo tons de azuis e peixes, o Himalaia ficou aparente pela primeira vez depois de 30 anos, leões tranquilamente descansavam no meio da estrada na África do Sul. Por aqui, nada mudou no Rio Tietê, mas tartarugas foram vistas nadando na Baía de Guanabara.     Também correram pelo mundo as notícias de que a bicharada saiu da floresta para passear nas ruas de alguns países da Europa, Ásia e até mesmo no Brasil. Não se sentindo ameaçados, invadiram os centros urbanos desertos das cidades em busca de comida.        Enquanto isso, numa pequena vila balneária, uma humana solitária acompanha essas informações super interessantes pelo celular. De repente, um passarinho azul cai no chão da varanda. Por um instante, pensou que o animal estivesse machucado, mas não estava, ficou observando-o aninhado na sua mão. Até sentiu um calorzinho no peito, pois entendeu que esse momento raro era um