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Mostrando postagens de janeiro, 2020

A outra sombra

Para ser franca, eu não estava animada com esta viagem, mesmo sendo somente por três dias. Relutante, acabei embarcando para o que se saiu melhor do que o esperado com hospedagem confortável, acolhimento e passeios por cachoeiras incríveis. Ao retornar, um simpático goiano que estava hospedado no hostel fala comigo como se já me conhecesse há algum tempo: “conheci tua amiga na parada de ônibus...”. Me apresentei e perguntei o seu nome, e depois recordei de quando ele havia feito o checkin. A conversa continuou, e pedi as características da amiga. Depois do desenrolar da história e dele ter dado o perfil da moça, lhe falei que ela não era minha amiga e que nunca tínhamos nos falado, e que me surpreendia o fato dela saber tanto de mim. Surpreso e confuso ficou o rapaz, depois falamos sobre o seu próximo passeio. Pronta para dormir, deitada, ri sozinha. Já havia bloqueado a suposta “amiga” na rede social onde mais posto stories do cotidiano. Até me perguntei como ela sabia o

Numa outra dimensão

O tempo passa diferente no Local. Parece que foi ontem que cheguei por debaixo de chuva, mas muitas semanas já passaram. O engraçado é que cada semana ganhou um nome, Tati, Yoichi Machino, Lino, Nico, Karen. Uma semana de amizade, vivendo como amigos há uma eternidade. A comunicação se desenrola diferente por aqui, numa simples frase você usa inglês, francês e “portunhol”. Tem japonês fluindo no francês e alemão que ama português. Por falar em idioma, a nossa língua é considerada a mais difícil pelos gringos. E eu pensando que fosse o mandarin! As pessoas se vestem diferente também, há simplicidade e leveza. O acessório indispensável é uma mochila nas costas. Nela carregam o necessário para viverem os longos dias longe de casa, porém com espaço ainda para muitas lembranças. O que me encanta é que este lugar junta gente do mundo todo. Uma fashionista francesa, um economista austríaco, um bancário brasileiro, um físico espanhol, um assistencialista japonês, uma advogada bra

Quando ela partiu

O dia da partida dela estava próximo, e eu sentia um aperto no peito. O esforço para não demonstrar minha ansiedade era do tamanho do medo de ficar só, ou seja, era um oceano. Uma hora ou outra, eu fazia perguntas a respeito de algum detalhe da viagem, coisas bobas. Dava pra perceber que ela não estava segura em nos deixar. Desde que nossa mãe morreu, ela tomou pra si a responsabilidade de se preocupar com o nosso bem estar, pensando bem, com a nossa existência! Na verdade, como nossa irmã mais velha ela esteve conosco sempre, nos carregou no colo e nos alimentou. Na sua companhia, fiz passeios à tarde, assisti desenhos dos anos 1990, patinei com sacolas nos pés pelo assoalho de madeira da antiga casa e chorei no seu colo quando me achei feia. Mesmo que depois da nossa grande perda ela tenha se vestido de força e dito “eu cuido de vocês”, era sofrido vê-la afundar mais uma vez naquele poço sem fundo. Os dois anos de dedicação eram suficientes para ver o quanto nos amava e