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Mostrando postagens de abril, 2020

Carinhoterapia

Quando chegamos à nossa nova humilde casa, eles já estavam lá. Eram todos parecidos, mas quem saiu do esconderijo, embora desconfiado foi ele. Recordo o quanto esse bichano era arisco, mas todo amedrontado foi se aproximando. Mamãe já havia avisado que depois do Mimoso, nosso gato branco endiabrado, e das cadelas Lupita, Arabella e Kika, mais o jabuti Léio, não teríamos bichos tão cedo em casa.      No entanto, esse residente antigo da casa, permaneceu lá. Os outros foram doados. A mãe desapareceu, pelo menos das minhas lembranças. E todos os dias minha irmã e eu insistíamos para ficar com o que seria nosso primeiro gato preto (risos). Eu que adorava dar nomes aos bichos, logo perguntei à dona da casa qual seria o dele:     – O nome dele vai ser Afrobrasileiro!     Ela brincou.     Todo mundo sabe que dar nome aos bichos é um caminho sem volta. E em casa o Afro fixou residência. Porém, precisávamos solucionar um problema. Ele precisava ganhar confiança. Então baseada nas mi

Jogada de bilhar

O jogo estava divertido, numa partida eu ganhava e na outra era o adversário. Não sei se era gentileza em me deixar ganhar ou se ele realmente não era bom no bilhar, mas a companhia era agradável. Algumas vezes eu errava a tacada de maneira desastrada, outras vezes tinha a pontaria certeira. Toda vez que encaçapava uma bola de sinuca, me sentia incrível. Mais confiante e focada no objetivo. Em uma das partidas, empolgada, tive uma bela lição. Não dá pra olhar só numa direção, existem várias caçapas. Por mais que tenhamos as bolas do adversário no caminho, basta só trocar de lugar e a perspectiva vai mudar. Existem inúmeras possibilidades para a jogada perfeita.    Pensei: “Caramba, a vida é como um jogo de bilhar!”.

Quando quase morri duas vezes no mesmo dia

Aquela tarde estava perfeita, ao caminhar pela orla de Alter do Chão com meu novo amigo, Alex. O céu estava com poucas nuvens e muitos pássaros a voar. O clima era agradável e o rio Tapajós parecia tranquilo. Ao longe dava para ouvir as vozes dos atravessadores com seus barquinhos a enfeitar a cena. Ao chegar ao ponto de onde sairíamos para atravessar, decidi deixar minha garrafa com água na barraquinha do seu Manoel. Contei o que faríamos e ele exclamou: – São dois desafios!”. Era exatamente dessa forma que eu estava encarando o que estava prestes a fazer.       Quando entrei no rio, tive uma sensação muito gostosa, pois a água estava bem morna. Iniciei as braçadas. Ao meu lado, Alex nadava tranquilamente com movimentos suaves do nado peito. Olhei pra trás, e vi o quanto já havia me distanciado. Porém, ainda não estávamos nem na metade do percurso. Foi quando comecei a ter a sensação de que estava me afogando. Fiquei com receio de ter cãibras, mas o que tive foi um ataque de ansie

Quarenteners

Em março decidi fazer voluntariado no hostel Don Preguiça pela plataforma Worldpackers na comunidade Alter do Chão, em Santarém, Pará. Já ouvíamos notícias sobre o Covid 19, mas desconhecíamos a gravidade do problema. Porém, em poucos dias, houve uma mudança brusca na rotina dos viajantes. Os que estavam conosco logo partiram, brasileiros e gringos. As reservas foram remarcadas e outras canceladas. Pensei em voltar para casa, mas não queria colocar em risco a saúde do meu sobrinho, pois é asmático. Então, decidi ficar. Alguns dias depois, o transporte de passageiros para a cidade onde moro foi suspenso. Agora estou aqui, no paraíso que chamam de Caribe da Amazônia, porém longe da família. Depois que iniciou essa quarentena, quase todos os dias me falta ar por causa da ansiedade. Há dias em que consigo ser forte, em outros, choro. No entanto, tenho certeza que a pandemia vai passar e que sairemos desta situação muito mais fortes.

O melhor encontro

Numa sexta-feira à tardinha, apressei os passos ao retornar para o hostel. Não poderia perder a hora. Ao chegar, guardei as compras e tomei novamente o rumo da rua que me levaria ao encontro. Não queria me atrasar, pois tenho esse péssimo hábito de ser impontual ou desmarcar em cima da hora. Havia me comprometido seriamente de naquele dia marcar presença pontualmente naquele lugar. Não sabia se teria outra oportunidade como aquela. Às 18h30, cheguei à praia sem conseguir conter minha admiração. O céu estava em brasas. Era uma intensa cor laranja que ocupava um grande pedaço do céu. Pensei naquele grandioso espetáculo como apenas uma tímida faísca da glória de Deus. Então, sorri. Pois tive o melhor encontro.  

Mas que preguiça!

Perto da orla, próximo da praia do Cajueiro, em Alter do Chão, encontrei o Don Preguiça Hostel. No dia da minha chegada, fui recebia pelo Edson, tio da proprietária do lugar. Como hóspedes tinha a Ju, Isa, Janaína e Jeff, todos vindos de São Paulo. Conheci o ambiente e me senti em casa. Organizei minhas coisas no beliche, tomei banho e à tardinha conheci o trapiche e vi um lindo pôr do sol. E assim encerrou o meu primeiro dia.        Nesse hostel, o meu lugar favorito se tornou a varanda, nela eu via o sol nascendo e à noite o céu estrelado. Para alguns hóspedes, a rede era o melhor lugar. Lembro que a Ju passava horas deitada assistindo filme ou lendo, às vezes conversávamos. A sensação que eu tinha era de que Alter nos ajudava a desacelerar, e de que estávamos hospedados na casa de uma família.          Pena que essas pessoas tão legais partiram. Claro que novos hóspedes chegaram e também foram embora. Outros desmarcaram, pois infelizmente, a notícia da pandemia mudou o cenário