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Mostrando postagens de janeiro, 2022

Tilte no sobrinho

Nesta semana, meu sobrinho e eu tivemos uma DR. Ele descobriu que eu havia guardado o balde de legos dentro do baú de brinquedos. Seu olhar foi matador ao se dirigir a mim.  "Tia, por que você fez isso?" "O que eu fiz?". Agi como desentendida.  "Não é pra colocar isso aqui nesse lugar".  As mãos tensas dele desenhando no ar num vai e vêm diziam que estava nervoso.  "Mas meu amor, tem muito espaço no baú e fica melhor assim".  "Não tia, já tem lego dentro do balde, não se coloca ele dentro de outra coisa".  "Espera, como já se guarda algo dentro do balde, a gente não guarda o balde de guardar algo dentro, dentro de outra coisa. É isso?!"  "Sim, tiaaaaaa". (Então, você que me leu, entendeu? Nem eu!!!)  Fixei o olhar no rosto dele, e espoquei na risada. 

Vou te contar um segredo

Vou te contar um segredo.  Não costumo falar muito o que vai aqui dentro. Sonho, desejo, raiva, alegria, estresse, é difícil sair. Fica aqui no peito. Quem dera explodir a cada episódio. Agora, depois de tantos anos, é que coisas boas extravasam pelos olhos. Não que eu não tenha expressão. Mas desde pequena fui ensinada a reprimir "calada ainda tá errada".  Antes disso, já guardava as minhas vontades. Era cautelosa. Contida. Mascarava as expressões, gestos estabanados por ser espontânea, só pra não incomodar. Mas quem se incomodaria? Não sei. Minha mãe dizia que não deveríamos incomodar ninguém. Só hoje aprendi que isso é medo da rejeição. Algo que lido melhor. Tranquei meus fantasmas ou amarrei pontas soltas? Quando criança comia a comida mais devagar do que como hoje. Parecia sem vontade. Confesso que não gosto de comer muito, muito menos sozinha. O que mais devoro é açaí, pizza. Eu provo, e tô satisfeita. Como pra saborear. O tempero mais gostoso é a companhia de outros na

Gata borralheira?

Uma princesa nascida para a eternidade fora criada como gata borralheira. Muito antes de habitar no ventre da sua mãe, seu nome já estava nos registros de um lugar tão distante. Infelizmente, um terrível vírus corrompeu o sistema, alterando o DNA e causando dupla natureza. Ninguém do lugar para onde ela estava destinada a viver escapou da terrível condição.  Antes que ela pudesse nascer, tudo começou a adoecer, envelhecer e perecer. Mesmo assim, sua existência não seria adiada. Do jeito que seu Pai pensou, ela nasceu. Embora, tenha sido afetada, seu código genético tinha a assinatura que Ele deu. Chegou nos braços de sua mantenedora com nome emprestado, mas que lhe serviu muito bem. Em sua nova casa na medida que crescia viu que o tempo era apressado. Seu corpo não acompanhava a sua mente, algo estava errado.  Não demorou pra perceber que mesmo que quisesse aprender, não teria hora suficiente. Onde os finais felizes não existem caminharia como errante. Por sorte, seu Pai cuidava de tud

Voltei

Voltei. Mas já tantas vezes voltei, que talvez você nem tenha percebido que um dia fui.  Foi no início da juventude, tinha uns 18 anos, quando comecei a sumir. Graças a Deus, tinha as amigas que gostavam de bater pernas, pra me buscar de mim mesma. Parecia que elas adivinhavam quando eu precisava sair. Com o tempo, foram se habituando aos meus sumiços. Nem eu entendia o porquê de agir desta maneira. Mesmo assim, na hora certa, elas insistiam pra eu sair. Sempre fui desse jeitinho. Até quero ir, fazer algo, mas preciso que alguém insista comigo. Por isso digo que na fase da adolescência, minhas amigas foram instrumentos para a minha salvação. Quando eu me retirava, voltava melhor. Nunca levava pra elas meus problemas. Para não sobrecarregá-las. Porque pensava que não me entenderiam. E não entendiam e eu respeitava. Pois elas me amavam.  Claro que, por causa delas e deles, na fase teen me esforcei demais pra me encaixar. Me esforcei pra ser mais extrovertida, para sair mais vezes, para

Tarde quente

Tarde quente. Assim como a lembrança que ficou. A vila não será esquecida. Que calor. A pele marcada. A única preocupação, correr para se despedir de mais um dia ao pôr do sol. Tudo sem data marcada. Nada agendado. Só um encontro especial. Luz dourada. Que espetáculo. É melhor aproveitar para registrar. Então, sorrir.  Rápido os minutos  se vão. Fica a gratidão.  [Memórias do início da pandemia na vila de Alter do Chão].