Viagem na maionese

Certo dia, depois de uma conversa calorosa com minha mãe, aos 16 anos decidi ir sozinha para Belém do Pará – querida terra natal – para vender livros de porta em porta. O maior desafio não seria a venda e sim realizar um sonho, conhecer meu pai.

Minha saudosa mãe entre suspiros dizia: “minha filha é tão sonhadora!”. Desconhecia a determinação do seu passarinho. Doía me ver querer sair do ninho. Por proteção disse não, mas foi em vão. Eu não tinha os pés no chão!

O inevitável aconteceu, o meu pai conheci. O grande sonho fora realizado, o que veio depois não precisa ser contado. Até porque nem tudo sai como o imaginado. E será que todo esse texto vai ser rimado?

Quando chegou o tempo de entrar na faculdade, minha mãe novamente o outro sonho não apoiou, mas os três primeiros semestres da faculdade pagou. Reclamava e reclamava, dizia que era para eu ter feito direito ou medicina. Não quis mais a ajuda financeira dela, consegui estágio e me virei para conquistar o diploma de jornalismo.

Minha mãe viu que dizer “não” era combustível para me desafiar, eu planejava sem parar. Quando me ouvia, ao final sempre dizia: “minha filha é tão sonhadora!”. Pena que dias escuros aspiraram todo o meu entusiasmo, mesmo com os dois sonhos realizados.

Anos se passaram, passei a trabalhar como vendedora atrás de um balcão. Os conhecidos que viam me perguntavam se eu não queria mais trabalhar como jornalista. Não era tão simples, não perderia tempo a explicar. No entanto, toda vez que era perguntada a respeito da profissão, uma cutucada recebia no coração.

Ainda fazia plano, escrevia listas, rascunhava ideias e comentava com pessoas próximas. No entanto, não tinha mais a minha mãe para exclamar que eu era “tão sonhadora”. Fazia falta vê-la em oração nas madrugadas.

Até que uma situação mudou tudo. Fui chamada para ir ao escritório do boss, já sabia qual seria o tom da conversa. Atrás daquela mesa, ele adorava dar sermões. Pacientemente, escutei. Porém, quando o assunto deixou de ser interno para algo pessoal, algum botão foi ativado e me inflamou.

Até hoje, a frase que virou alcunha deste blog, ecoa na cabeça, “tu tens que ter os pés no chão, tu viajas muito na maionese!”. Foi o suficiente para que eu recuperasse as forças de sonhadora, “antes de você dizer que preciso ter os pés no chão, você precisa conhecer a minha história de vida”.

Após as férias, pedi demissão. Agora, precisava continuar com as minhas viagens.

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