Carinhoterapia


Quando chegamos à nossa nova humilde casa, eles já estavam lá.
Eram todos parecidos, mas quem saiu do esconderijo, embora desconfiado foi ele. Recordo o quanto esse bichano era arisco, mas todo amedrontado foi se aproximando. Mamãe já havia avisado que depois do Mimoso, nosso gato branco endiabrado, e das cadelas Lupita, Arabella e Kika, mais o jabuti Léio, não teríamos bichos tão cedo em casa.
     No entanto, esse residente antigo da casa, permaneceu lá. Os outros foram doados. A mãe desapareceu, pelo menos das minhas lembranças. E todos os dias minha irmã e eu insistíamos para ficar com o que seria nosso primeiro gato preto (risos). Eu que adorava dar nomes aos bichos, logo perguntei à dona da casa qual seria o dele:
    – O nome dele vai ser Afrobrasileiro!
    Ela brincou.
    Todo mundo sabe que dar nome aos bichos é um caminho sem volta. E em casa o Afro fixou residência. Porém, precisávamos solucionar um problema. Ele precisava ganhar confiança. Então baseada nas minhas outras experiências com gente, decidi aplicar a carinhoterapia nele. Todos os dias, Afro recebia carinho e atenção.
    Nosso pretinho básico cresceu, desfilava pela casa com seu corpo flácido e pelos sedosos. Minha companhia presente e fiel amigo. Quando eu chorava, ele miava. Em meio à ansiedade, se recostava em mim. Sentado no laptop, não me deixava trabalhar. Nos momentos de leitura, enfiava a cabeça no livro e observava como se soubesse ler. Trazia bicho morto pra me alimentar, e às vezes deixava baratas ou aranha sobre a cama como mimos para a pessoa que escolheu para ser sua dona.
     Mesmo quando nos mudamos para outra quadra da rua e o terreno ficou vazio para a construção da nossa nova casa, ele não saiu de lá. Quando retornamos, já não era mais o mesmo gato, estava abatido pelas surras. Tomou gosto pelas brigas por território. Porém, de longe quando me via saindo ou voltando do trabalho, pontualmente vinha ao meu encontro para conversar e receber carinho.
    Afro, viveu conosco seis anos. E realmente, foi um gato preto de sorte!

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