Quando quase morri duas vezes no mesmo dia
Aquela
tarde estava perfeita, ao caminhar pela orla de Alter do Chão com meu novo
amigo, Alex. O céu estava com poucas nuvens e muitos pássaros a voar. O clima era
agradável e o rio Tapajós parecia tranquilo. Ao longe dava para ouvir as vozes
dos atravessadores com seus barquinhos a enfeitar a cena. Ao chegar ao ponto de
onde sairíamos para atravessar, decidi deixar minha garrafa com água na
barraquinha do seu Manoel. Contei o que faríamos e ele exclamou: – São dois
desafios!”. Era exatamente dessa forma que eu estava encarando o que estava
prestes a fazer.
Quando entrei no rio, tive uma sensação
muito gostosa, pois a água estava bem morna. Iniciei as braçadas. Ao meu lado,
Alex nadava tranquilamente com movimentos suaves do nado peito. Olhei pra trás,
e vi o quanto já havia me distanciado. Porém, ainda não estávamos nem na metade
do percurso. Foi quando comecei a ter a sensação de que estava me afogando.
Fiquei com receio de ter cãibras, mas o que tive foi um ataque de ansiedade.
Nesse dia, acordei ansiosa. Aceitei o convite para nadar como uma tentativa de
relaxamento.
No entanto, naquele momento compreendi o
porquê de tantas pessoas morrerem afogadas. Por mais que me esforçasse para sair
do lugar, sentia como se estivesse sendo puxada para baixo pelos redemoinhos do
rio (depois me deram essa explicação). Estava cansada demais para dar mais
braçadas, pois a ansiedade já havia me esgotado durante o dia. Tinha a opção de
desistir. Com tanto pavor de viver, a oportunidade era esta. No entanto, meu
instinto de sobrevivência ligou o alerta, levantei o braço e gritei. Logo,
avisei meu parceiro de travessia que não conseguiria continuar, me apoiei nele
e ele nadou comigo. Mas para não piorar a situação, preferi pedir ajuda
novamente.
O atravessador Naelson me socorreu, subi
na canoa exausta. Ainda tentando compreender o que foi tudo aquilo. Agradeci ao
rapaz por ter me socorrido rápido. Foi quando ele disse que várias pessoas
haviam morrido afogadas tentando fazer o mesmo que eu. Depois de quase morrer,
parti para o meu segundo desafio. Desembarquei na Ilha do Amor, e junto com o
francês, caminhei até à montanha Piraoca. A trilha era plana e só ficava mais
íngreme próximo ao topo, com cerca de 100 metros de altura.
Novamente tive que lidar com pensamentos de
que não iria conseguir, na medida em que entrava na trilha e me distanciava da
praia. Travei uma luta comigo, mas decidi não desistir. Alex me animava e me
estendia a mão nas subidas complicadas. Quando já faltava pouco para chegar,
meu corpo não aguentava mais. Estava com muita sede, e meu peito doía com o
coração quase pulando pra fora. Olhei pra trás, e só vi árvores. Meu desespero
aumentou. O percurso era tranquilo, com parceiro experiente. O problema era só
eu me sabotando. Porém, não dava mais pra voltar atrás. Esgotada pela
ansiedade, segui em frente. Até que chegamos ao topo, e tudo valeu a pena. A
vista é linda!
Por alguns minutos contemplamos a
paisagem e conversamos. Descansei. Revigorada, me senti livre do que me afligia.
O retorno foi fácil e rápido, com muita leveza. Atravessei o rio na canoa, e
meu parceiro de aventura novamente foi nadando. Parecia que não se cansava
(risos)! Na verdade, ele estava preparado para essas situações e eu não. Contei
sobre minhas desventuras do dia para a dona do hostel, ela me disse que no meu
lugar após o susto no rio, teria voltado para casa na mesma hora.
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