Fevereiro 20

Há seis meses não via meus irmãos e sobrinho, voltei pra casa. Tudo estava do mesmo jeito que deixei; a cidade no mesmo marasmo. No entanto, cheguei por volta das 22h, e não tinha percebido que a rua principal do conjunto Embrapa e a Sétima Avenida do bairro Congós tinham sido asfaltadas depois de muitos anos – mais de uma década. Em casa, vi que a TV antiga havia sido substituída por outra presa na parede e um sofá cinza novo preenchia a sala, antes vazia. O cheiro ainda era o mesmo, apenas o meu quarto que fora impregnado pelo odor do meu irmão. Não sei, tenho a impressão de que irmãos nunca cheiram bem ou meu olfato é muito sensível.

     Ainda estava processando o ERROR do Enem que havia afetado parte da minha vida no mês de janeiro – não, não fiz esse exame –, quando muitos dias após a minha chegada vi a notícia na internet sobre o naufrágio do navio Anna Karoline III. Foram muitas vidas interrompidas numa viagem sem volta, silenciadas pelo egoísmo de um único responsável que via pessoas como números. Sentada no sofá, minha cor se igualava a dele de tanta tristeza.

    Mas fevereiro não é mês para choro, só se for de alegria. Então, veio o carnaval. E as fotos de pessoas que nunca tinham ido para a banda tomaram conta das redes sociais – alguns cuspiram pra cima. De Macapá ao Rio de Janeiro, muitos foram para as ruas manifestar... sua folia. Enquanto isso, acompanhava nos stories da minha ex teacher de inglês fotos dos chineses com máscaras por causa de um tal vírus.

    Embora digerindo janeiro, já me sentia empanturrada de fevereiro.

    Ainda nesse mês, ganhei um trampo para escrever – seria paga para isso. Em casa, me sentia fora do contexto. Meus irmãos estavam tão crescidos. A missão “eu cuido de vocês” fora concluída. Então, decidi fazer mais um voluntariado em hostel, desta vez em Alter do Chão. Agora era só arrumar a bagagem mais uma vez.

   Fevereiro acabou. No dia da viagem, minha pequena família e eu passeamos pelo lindo Bioparque do Amapá (revitalizado depois de muito tempo também). Já dentro da embarcação, meu nervosismo aumentou. Ao comprar o bilhete, a moça da tripulação me viu lagrimar, “não se preocupe, este navio não vai afundar”.

    Mas não era só isso, é que eu ainda não tinha me acostumado a partir.


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