Julho 20

Na primeira quinzena de julho senti uma forte vontade de retornar com o plano de me preparar para uma viagem voluntária internacional, então lembrei que havia deixado pendente minha inscrição numa plataforma de serviço voluntário em outros continentes. Preencher todos os requisitos desse cadastro tornou-se um desafio, pois precisava ter referências, atestado médico, currículo em inglês e um curso online de missões. 

    O item mais trabalhoso de conseguir foi o formulário de saúde. Era época de quarentena e eu estava distante do médico que havia me atendido pela última vez e conhecia o meu histórico de paciente. Recorri a alguns conhecidos (amigo também) da área médica, só ouvi “não vou me responsabilizar” ou “estou sem tempo para ver o formulário” ou “agende com a minha secretaria a sua teleconsulta”, mas sem me dizer quanto custaria. Também me assopraram uma objeção, mas retruquei com um “parece difícil, mas não é impossível”.

    Até que ouvi a sugestão de ir à Unidade Básica de Saúde da vila onde estava morando, e mesmo com receio decidi verificar a possibilidade. Ao chegar ao posto médico só havia vaga para depois de muitos dias, mas gentilmente a atendente me agendou para o outro dia quando expliquei a finalidade da consulta. Então, enfrentei meu receio de ir ao local que mais evitava em tempos de pandemia.

    No dia seguinte, estava aguardando a minha vez no atendimento, quando observei uma garotinha chorando – deveria ter uns dois anos – correr atrás da mãe. No início do corredor do segundo bloco havia uma porta de vidro com duas folhas, uma delas estava fechada no trinco. De repente, só ouvi o barulho da pancada “pah”. Ela titubeou. Não viu a abertura ao lado. Pela segunda vez tentou atravessar a barreira transparente e prosseguiu com o choro. Eu sorri. “O bom é que a máscara esconde o meu riso”, foi o que pensei.

   Depois passaram duas moças de fortes traços indígenas com bebês no colo, e mais uma garotinha – cerca de quatro anos – acompanhando-as. A menina nos olhou distraída, quando deu de encontro numa senhora sentada na cadeira da recepção. Atordoada, saiu com a vergonha estampada no seu rosto infantil. Todos os adultos com máscaras sorriram, percebi pelos seus olhares. Pra finalizar a minha manhã, fui atendida por um médico humilde, prestativo e simpático. Saí do consultório alegre e agradecida pela ajuda de um desconhecido.

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