Outubro 20

Quando a primavera iniciou, brotou em mim a certeza de voltar para o aconchego do lar. A natureza de Alter se alterava drasticamente. No ar, sentia um clima de mudanças externas. Havia a impressão de que um ciclo se encerrava, e eu não poderia evitar. Mesmo contra a minha vontade, apenas me entregar.

     Então, voltaria para o aniversário do meu sobrinho, pois havia perdido o do ano passado quando estava em Manaus. Também, para comemorar o meu, junto da minha pequena família sem adultos com mais de 40 anos. Retornaria para casa, para Macapá, para outubro, para a lembrança do luto. Estaria mais uma vez compartilhando do mesmo sentimento com meus irmãos.

     Ao sair da minha segunda casa, deixei para trás o Tapajós, os pores do sol que ainda não tinha contemplado, os novos amigos, o volunturismo e a lembrança de um coração partido. De lá, trouxe uma bagagem enorme. Mais a missão de no meu mês fazer o curso de escrita com mentoria no pacote e participar do desafio de escrever um livro em 30 dias para o concurso promovido pela mentora.

     Na verdade, seria um duplo desafio. Porque escreveria sobre os últimos dias da mamy. No início, fiquei na dúvida se acessaria este lugar escuro. Ao estruturar o projeto editorial, fui indagada pela autora do curso sobre qual seria o intuito disso. Inspirar as pessoas com a história? Homenagear minha mãe? Colocar para fora como um tipo de terapia toda dor guardada?          

     Não foi fácil escrever. Foi difícil rememorar aquele semestre de 2016.

     Não consegui me adequar ao método proposto. Foi o gatilho para a minha ansiedade e sentimento de impotência. Senti o estresse no meu corpo. A pressão em ter que digitar 2500 palavras, todos os dias, sentada no mesmo lugar e na mesma hora me esgotou. Sou lenta e perfeccionista, portanto, não consegui escrever brutalmente deixando as palavras atropeladas para depois serem revisadas.

   Em alguns dias, as pontas dos meus dedos não transportavam as centenas de letras emboladas no meu peito. Existia um livro dentro de mim, mas minha cabeça parecia um limão seco que cresce bonito e nos engana com sua linda aparência, pois não é suculento.  Tinha dia que eu dizia pra mim: “Espreme, espreme, espreme!”.

     Não desisti. Mesmo exausta.

     Não fiz outra coisa, além de estudar e escrever para este desafio. Gosto de me desafiar. Preciso disso. Também queria dar forma aos meus sentimentos, lembranças e aprendizados desta jornada que vivenciei com minha mãe. Enquanto vários mentorados finalizavam seus livros muitos dias antes, sofri para entregar o meu no último dia, na última hora.

    O envio foi feito com muita insegurança. Porque durante todo o processo, olhei desacreditada para a minha obra; um livro de memórias. Escolhi gênero não ficção, porque ainda não sei inventar história apesar da fértil imaginação. No entanto, digerindo o mês de outubro, confesso a você que escancarei meu coração e minha alma. Expus a menina que passou pelas dores da rejeição e do abandono, mas que conseguiu seguir em frente.


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