Voltei

Voltei. Mas já tantas vezes voltei, que talvez você nem tenha percebido que um dia fui. 

Foi no início da juventude, tinha uns 18 anos, quando comecei a sumir. Graças a Deus, tinha as amigas que gostavam de bater pernas, pra me buscar de mim mesma. Parecia que elas adivinhavam quando eu precisava sair. Com o tempo, foram se habituando aos meus sumiços.

Nem eu entendia o porquê de agir desta maneira. Mesmo assim, na hora certa, elas insistiam pra eu sair. Sempre fui desse jeitinho. Até quero ir, fazer algo, mas preciso que alguém insista comigo. Por isso digo que na fase da adolescência, minhas amigas foram instrumentos para a minha salvação. Quando eu me retirava, voltava melhor. Nunca levava pra elas meus problemas. Para não sobrecarregá-las. Porque pensava que não me entenderiam. E não entendiam e eu respeitava. Pois elas me amavam. 

Claro que, por causa delas e deles, na fase teen me esforcei demais pra me encaixar. Me esforcei pra ser mais extrovertida, para sair mais vezes, para me socializar com tanta gente, para deixar de ser quem eu era porque elas consideravam inconveniente. Não estavam preparadas para lidar com quem era diferente. Engraçado que nem eu sabia que era assim, por isso muitas vezes me senti como uma figurinha recortada de um álbum. Eu cedi em muitas coisas, me perdi.

 Não só pelos amigos que sem perceber exigiam suas condições como pelo namorado que surgiu depois. Graças a Deus, eu me desconstruí. Me encontrei. Resgatei a minha identidade. Os sumiços eram pausas. Era para me entender, me recarregar e para ócio criativo. Demorou para perceber o porquê de agir assim, até que me conheci um pouco mais. Introvertida. Comunicativa, mas não tão sociável. Reservada. Observadora. Inquieta mentalmente. Sensível. Intensa. Uma esponja ambulante que precisa se esvaziar de tempos em tempos. 

Hoje, saio menos. Não é porque envelheci, é porque me entendi. Não ando cansada de tudo. E quando algo me sobrecarrega, um ambiente, atividades, conversas e/ou pessoas, dou uma pausa. Me recolho. Sumo. Pra voltar com o brilho de sempre, com muitas ideias, imaginativa, criativa e renovada.