Criança interior

"Você sempre acorda feliz", é o que a minha irmã diz. Então perguntei "até quando estou triste?". A resposta foi "sempre, assim como é otimista". 

Talvez, ela me conheça melhor do que eu mesma. Mas é que aqui dentro existe uma criança interior que nunca deixei morrer. Quem sabe seja isso. Um dia, ela falou para eu assistir a série da Anne with an "E". Porque a personagem principal era parecida comigo, no entusiasmo, na espontaneidade, na determinação, nas dores, no gosto pelas palavras. Curiosa, fui ver. 

Realmente, assim como Anne adoro o som de algumas e de quem as usa com maestria, elegância e simplicidade.  Como Anne me encanto com as cores, formas e cheiros das flores, textura dos troncos, formatos das nuvens, azul do céu, imponência do sol ao nascer e se despedir, fases da lua - principalmente quando sorrir. Assim como Anne sou incoveniente com meus sonhos, com a maneira como enxergo as pessoas, as coisas. Outro dia, um rapaz para me ofender disse que eu perguntava como uma criança descobrindo o mundo. Na hora, eu agradeci. Não vi como ofensa. Só depois ao reler a conversa, entendi. Mas tudo bem, ele é um bom leitor. 

Uma vez, sentada no trapiche do CAT em Alter, escutei um garotinho deslumbrado exclamar: "Como a lua está maravilhosa, olha pai". O pai, esticou o corpo como se fosse ver o reflexo dela no rio, e expressou um "arrã" chocho. Quase levanto para sacudi-lo com um "cadê o entusiasmo, ela está linda!!!" ou "presta atenção nos detalhes das coisas simples". 

Cuide da sua criança interior. Não a perca de vista no meio do furacão que é a vida moderna. Às vezes, ainda me pego surpresa por ver que as pessoas não param para contemplar os espetáculos diários do sol, o céu estrelado, os jardins enfeitados, a força das árvores, a graciosidade da lua e os rostos anônimos.

Em tudo isso, vejo Deus. E me maravilho. Que mal tem nisso? 

E você, já parou hoje para observar que as nuvens ainda tem forma de elefante?