Era uma viajante feliz

 "Lee McMillan, influencer conhecida por viajar o mundo em uma van, morre aos 28", este foi o título do link que vi no Twitter. Corri com os olhos pelos comentários, para entender melhor. Algumas pessoas falavam que não deveriam noticiar suicídio para não ser gatilho para muita gente. Alguém avisou que o fato era um bom exemplo para quem acha que os influencers são mais felizes, e na vida real, não são. Outra pessoa se solidarizou, "depressão é um problema seríssimo". Uma moça afirmou que realmente não sabemos o peso da cruz que muitos carregam, pois pensavam que Lee tivesse a vida perfeita por viajar o mundo e conhecer lugares surreais. Acessei o site de notícia. 

Na matéria, tinha uma foto de Lee toda sorridente, como alguém feliz, sem problemas. No relato, era descrita por seus amigos como uma pessoa iluminada. Então, pensei, é isso mesmo. Quem é luz, reconhece suas sombras. Quem sorri, sabe o quanto já doeu. Quem sabe acolher, já conheceu a solidão. 

Quando adolescente, eu sorria muito. Era um riso silencioso, mas constante. Certa vez, cheguei atrasada. Como sempre chegava. E o monitor da portaria me perguntou se eu não tinha problemas. Respondi sorrindo que sim e quis saber o porquê da sua pergunta. Ele disse que eu parecia uma pessoa sem dificuldades. 

Num episódio anterior, andando de volta pra casa, encostei ao lado de uma colega. Não conversávamos muito na sala de aula. Ela era bem tímida. Percebi no trajeto que estava triste, quis saber o motivo. Direta como sou, lancei a pergunta. Ela contou tudo que lhe incomodava. Contei a ela como era a realidade em casa.

 Surpresa, exclamou não imaginar eu passar por tanta coisa. Eu sorri. Ela disse que eu não parecia ter problemas porque sempre estava sorrindo. Na época, era uma adolescente de 16 anos que não me sentia acolhida dentro de casa. Já havia me resignado em fazer da solidão a minha companheira. Me sentia excluída da família. Sofria por me sentir diferente. Chorava em silêncio toda noite. 

Minha casa era meu refúgio, quando ficava raramente sozinha. Mas não era ainda o melhor lugar. Então, amava está na casa das amigas, mesmo solitária fazia muitas amizades, adorava ir para a escola e igreja. Ao sair de casa me sentia rodeada por uma atmosfera colorida. Assim foi a minha adolescência, com cores. Ela desbotou depois da faculdade. Quando tudo desmoronou.

 E até hoje junto os pedaços e reconstruo quem sou. Todo dia. O sorriso ainda continua. É minha marca registrada. Meu marketing. Meu charme. As feridas estão sarando. A solidão vem me afagar. Há dias que sinto sombras se aproximar, mas não deixo tomar conta de mim. Realmente, ninguém sabe o peso que o outro carrega. Porém, se você conhecer uma Lee viajante feliz ou uma Elle sorridente, ambas cheias de luz. Saiba o que elas deixaram pra trás para ter uma bagagem mais leve. O quanto elas já lutaram para sorrir. 

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