Educação para toda a vida!

Ainda lembro quando tinha meus cinco anos. O cheiro da primeira cartilha de ABC e a ansiedade por querer saber o sabor das palavras, que era melhor do que qualquer sopa de letrinhas. Minhas primas mais velhas se exibindo, orgulhosas, porque tinham seu material escolar, uniforme e iriam para a escola. Quando chegava a hora, tomavam a bênção dos mais velhos e corriam para a canoa, remando em direção à Escola de Ensino Fundamental São Benedito, na Vila dos Dias, interior de Breves. No trapiche, aguardava a volta delas, pronta para ouvir o que havia acontecido na escola – o que comiam na merenda, se a professora era brava e quais eram as brincadeiras. Enquanto isso aguardava o dia em que também iria para a escola.
Agora, cá estou falando para você sobre algo que é fundamental para a formação de todos – a educação. De acordo com a Constituição Federal, educação é direito de todos e dever do Estado e da família, ou seja, elemento de suma importância para o desenvolvimento da pessoa. Portanto, todos têm direito a garantia de padrão de qualidade. No entanto, nem todos têm sorte, pois a qualidade do ensino não é a das melhores. Mas de quem é a culpa? Algumas pessoas podem apontar: dos governantes, dos pais, da escola! Mas, de quem realmente é esta culpa?
De acordo com a Constituição Federal, os municípios devem atuar priorizando o ensino fundamental através de programas suplementares de material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde (VII art.208). Para a autora norte-americana Ellen White, a educação começa desde o berço, ou seja, a partir da gestação, e que os primeiros sete anos da criança devem ser bem aproveitados, pois é nessa fase que o infante está formando seu caráter. O que quero dizer com tal afirmação? As escolas que oferecem educação infantil e o ensino fundamental devem possuir estrutura para desenvolver educação com qualidade.
Mas como conseguir esta façanha? Quero lembrar a você que no ano de 2008 os candidatos fizeram algumas propostas, entre elas melhorar a educação na cidade de Macapá. Este ano, uma das promessas foi cumprida em algumas escolas municipais: café da manhã, merenda, almoço pela manhã e tarde, mais uma merendinha no final da tarde. Não esquecendo da cesta básica, leite e vale refeição nas férias. Haja comida, mas não é só de pão que as crianças carecem, pois existem muitas desnutridas pela falta de educação, padecendo nos sepulcros da reprovação e ignorância.
Numa busca rápida pela internet, acessei o blog Zona do Zico, e tinha a seguinte notícia: “A nova lei indica que a atual gestão (prefeitura) terá cerca de 390 milhões de reais para desembolsar em 2009, de acordo com a estimativa de receita e as indicações de despesas. O texto da lei aponta que a educação terá recursos na ordem de 90 milhões de reais...”. Em comida nas escolas sabemos que uma parte da verba será direcionada, outra parte será dedicada aos pequenos reparos nos colégios, mas e o restante do dinheiro? Como ficam os professores?
É necessário que o governo e prefeitura invistam nas escolas e em seus educadores, todavia, o professorado deve se manifestar – se há disposição para fazer greves solicitando aumento de salário, logo, a qualidade das suas aulas também deve melhorar. Numa rápida conversa com o professor da escola Adventista Jonatas Leite, perguntei a sua opinião sobre a educação em Macapá, e a resposta foi imediata: “decadente”. Sobre o professorado, me explicou que existem professores bons e ruins, para ele a justificativa de professores “ruins” atuarem na educação é simplesmente devido ao único interesse, o salário. É, imagine então quantos professores sem vocação, sem preparo e sem vontade de realmente contribuir no aprendizado dos pequeninos, trabalham para apenas receber o seu pagamento.
Isto me faz lembrar dos professores que passaram pela minha vida estudantil. Não recordo o rosto e nome de todos, mas lembro de certo professor de matemática com quem não aprendi coisa alguma. Perdi a conta de quantas vezes ele faltava, e quando dava aula mal parava na sala, ao explicar o assunto ninguém entendia e quando pedíamos para repetir a explicação, era só perda de tempo. O resultado nas provas? Era zero, meio ponto, acima de cinco não passava. Ainda bem que não ficamos com ele por muito tempo, mas este mesmo professor ainda continua dando aula na mesma escola onde estudei, recebendo seu salário.
Mas quais são as razões para que um educador esteja despreparado para ensinar? Falta de tempo para estudar e fazer novos cursos, motivação, treinamentos, melhores salários e benefícios, enfim. Há anos o salário de um professor do Estado Amapaense é considerado um dos melhores do Brasil, dos educadores da rede municipal nem tanto, mas há promessa de aumento para este ano, porém, se formos comparar com o ordenado dos professores de outros estados que se esmeram para dá aula em lugares precários, isolados e perigosos, ganhando apenas o mínimo.
A primeira cartilha. Nunca vou esquecer do primeiro contato que tive com as letras. Aos cinco anos indo estudar “encostado” numa pequena escola municipal com apenas duas salas – situada no interior de Breves. Sem uniforme, somente com um caderninho e lápis na mão. Na aula, sempre inquieta, esperando o dia em que também leria meu texto para a professora, mas ela sempre me dizia: primeiro você tem que aprender o alfabeto e depois as sílabas. Dedicação, todos os dias admirava o contorno das letras tentando decorá-las e saber seus nomes, pedia aos meus tios que me ensinassem – pois era só o começo!
O início de um mundo que se abria através dos livros, a carona que eu pegava segurando nas palavras. Hoje estou aqui a falar com você, fazendo faculdade de jornalismo – o curso da leitura e escrita. Tive sorte, encontrei mais professores capazes do que ruins, porém, a minha formação não está firmada somente no que estudei com os educadores na cidade, mas também no que aprendi quando ainda era pequenina - lá no interior de Breves, com a professora leiga que insistia para eu decorar a cartilha do ABC e com a rígida tia que me ensinou a ler.
Por D.G

Comentários

Alexandre Brito disse…
Oi Danizinha,
Fico feliz de ver vc produzindo e entusismada. Isso é bom.

Sobre o texto, senti falta de um comentário contundente a respeito de um professor que tenha te marcado positivamente.

Mesmo quando falas da professora lá de Breves (sou louco pra conhecer essa cidade!) o centro da narrativa és tu e não a professora.

Inté e continue atualizando.
Elle Custódio disse…
Ô prof. querido valeu por ter postado o comentário!

É verdade esqueci dessa parte(dá ênfase a respeito de um professor que marcou positivamente). Novamente a questão da ambivalência!


Mas me conta vai, você é louco pra conhecer Breves, por quê? Fiquei curiosa!

Vou continuar atualizando!Ah vou atender algumas das tuas sugestões!

Bjinhos.

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